Rio de Janeiro, 7 de junho de 2005.
Sr. Presidente da Assembléia Geral Extraordinária dos
Acionistas da CEDAE:
Na condição de acionista minoritário e
representante de todos os acionistas minoritários que me elegeram para
representá-los, apresentei na reunião do Conselho de Administração da CEDAE,
ocorrido no dia 18 de maio, último, voto por escrito, com comentário que consta
da Ata daquela reunião, contrário ao item 2 (dois) da Pauta: “aprovar a
realização de estudo para a cisão da Empresa em 6 (seis) partes - 1 parte de
produção de água e de tratamento de esgotos e 5 (cinco) partes de distribuição
de água e coleta de esgotos.” Apesar disto, foi aprovado por maioria de votos
do acionista majoritário.
Na mesma reunião e pela mesma via de aprovação,
foi convocada a presente AGE, para referendar aquela proposta de cisão da CEDAE
com, provavelmente, o respectivo projeto.
Ora Sr.Presidente e Srs.Acionistas presentes,
vimos com as mesmas convicções negar tal idéia. A experiência de 40 anos de
vida no saneamento básico, nos leva a antever resultados desastrosos para o
saneamento básico com fortes consequências negativas para a saúde pública.
No nosso voto, lá no Conselho, escrevíamos: “Tal
alteração organizacional carece de maiores esclarecimentos, pois não está claro
o sentido real a que se destina”. Não foi além de uma idéia. Temerário e
leviano se votássemos favoravelmente com a inexistência de um projeto estribado
em objetivo claro, bem definido, em face de uma ou mais justificativas
convincentes.
Aqui, hoje, chegamos de mãos vazias. A Assembléia
está instalada sem que os acionistas minoritários tivessem a honra de receber,
previamente o instrumento cabal para esse fim. Ficamos discriminados ao arrepio
da Leia das S.As e legislação pertinente. Essa omissão repetida nos remete ao
pedido de anulação desse item na pauta desta AGE. Se formos atendidos e caso
persista o ânimus para tal alteração organizacional, solicitamos nos encaminhar
o instrumento, aqui ausente e reclamado, para análise dentro do prazo legal,
compatível com a responsabilidade técnica da análise de tão alta decisão
nos destinos desta grandiosa Companhia
Estadual de Águas e Esgotos, consubstanciando por relatório financeiro-contábil
que demonstre, mensalmente, nos exercícios de 2004 e 2005, o valor faturado, o
valor arrecadado e suas despesas naqueles exercícios, principalmente aquelas
que tornaram a CEDAE inadimplente junto aos seus fornecedores e prestadores de
serviços tais como: Light, Unisys, Consultores jurídicos, bem como, as despesas
com pessoal próprio e respectivos encargos e o serviço da dívida.
É oportuno nesse momento de decisão do acionista
majoritário, uma introspecção e quiçá uma reflexão conseqüente. Para tão importante
meditação, contribuímos com um retrospecto sintético desta memorável CEDAE, que
remanesce da fusão das empresas CEDAG, SANERJ e ESAG e que resiste!
Éramos, tão somente, Departamento de Águas e
Departamento de Esgotos, ambos da estrutura da Secretaria Geral de Viação e
Obras da Prefeitura do Distrito Federal. Como tal, estávamos inseridos no
orçamento municipal, Verba irrisória se destinava ao saneamento. Havia como
demanda crescente, principalmente, no abastecimento de água que dependia dos mananciais
que davam sinais de redução do volume de água, agravado nas estiagens. O
arrecadado através da taxa de água e de esgoto no imposto predial era
insignificante. O saneamento básico era uma atividade da administração direta
do governo municipal. Na época, vivíamos dependentes de arranjos da União, já
que, aqui, era a capital da República.
Acabou. A capital foi para Brasília. Criaram o
estado da Guanabara e com aquele Estado ficava, também, o caos do
abastecimento. Não havia água o bastante para abastecer. Era desesperador. O
governo eleito, tentou soluções através de seus órgãos. Um deles autárquico - a
SURSAN. Não conseguia pois para viabilizar projetos de abastecimento de água,
tinha-se que recorrer aos empréstimos de órgãos internacionais e estes exigiam
garantia para o pagamento do reembolso. O governo do Estado criou a CEDAG -
concessionária de serviço público. Para viabilizá-la, tornou-se acionista
majoritário e formou o grupo dos minoritários, à luz da legislação. Agora, o
Estado podia garantir o pagamento dos empréstimos, já que, através de uma
Sociedade de Economia Mista, podia cobrar tarifa, saindo da taxa do imposto
predial, tornando o abastecimento auto-sustentável.
Aí o governo conciliou três aspectos
importantíssimos - tinha recursos financeiros disponíveis, dispunha de técnicos
de respeitabilidade comprovada internacionalmente, que, aliás, tem sido uma
marca da CEDAE e o mais importante, não privatizou o que poderia fazê-lo.
Preferiu honrar a sua responsabilidade para com a saúde pública e seus aspectos
sociais, mantendo a sua direção indiretamente.
O caos foi desaparecendo e emergindo um
abastecimento satisfatório. O Guandu nasceu como obra do século, responsável
pelo volume de água produzido, capaz de abastecer a Guanabara por mais algumas
décadas e, hoje, se estende à Baixada Fluminense.
Foi um sucesso a CEDAG. A sua organização
interessou ao governo federal e, por isso, foi o modelo introduzido em todos os
estados, como meio de garantir, especificamente, a aplicação dos recursos
financeiros oriundos do FGTS, administrado pelo extinto BNH, necessários ao
saneamento básico nos municípios, tendo como condição o convênio com as
empresas estaduais.
Quase todas as grandes obras no saneamento básico
nacional se devem ao exercício de tais instituições concessionárias do serviço
público em modelo da CEDAE.
Com a fusão do antigo Estado do Rio de Janeiro e
do Estado da Guanabara, fundiram-se a CEDAG, SANERJ E ESAG, surgindo, em
decorrência a CEDAE. Esta empresa mantém, até hoje, com todas as dificuldades
que lhe tem sido impostas por ações equivocadas de governos estaduais passados
e pela inadimplência dos usuários, um abastecimento normal e uma altíssima
qualidade de água distribuída. Não há registro, ao longo de sua história, de
contaminação com a sua ingestão. No aspecto humano, sempre aplicou o subsídio
cruzado em face da necessidade vital do uso da água. O que arrecada, reaplica
indistintamente em todos os municípios conveniados, tenha neles boa ou ruim
arrecadação. Já foi superavitária em gestões anteriores. Hoje está sucateada,
devido, provavelmente, às decisões equivocadas e as injunções externas
descabidas. A CEDAE, hoje, carece, mais do que nunca, de uma boa gestão capaz
de modernizá-la e não de um esfacelamento selvagem que a tornará irrecuperável,
pelos próximos governos. Inclusive, como conseqüência danosa, o esfacelamento,
também, dos sistemas integrados. A CEDAE está doente. Clama por remédio que a
cure. Não é justo que por estar enferma tenhamos que matá-la. Imaginemos se
assim procedesse a medicina humana!
Outros aspectos importantes são:
1) O fato de que quase todo o patrimônio da CEDAE,
aqui, se insere o sistema Guandu, bem como os seus investimentos, têm sido
financiados, até hoje, pela sociedade, através da remuneração dos investimentos,
constante da equação tarifária, independentemente dos impostos pagos ao
governo. Não seria nenhum absurdo em respeitável instância que se ouvisse a
sociedade proprietária legítima desse patrimônio, através de um plebiscito, se
concorda com a cisão da CEDAE, cedendo, provavelmente para a iniciativa privada
o uso e exploração do seu patrimônio para auferir o lucro, já que a
distribuição seria privatizada. Também, provavelmente, a sociedade, através da
tarifa irá custear a produção da água para ser vendida aos distribuidores
privados ao preço irreal, comparado com o custo real decorrente da captação, do
tratamento e da adução - a empresa de distribuição privada que opera em
Niterói, ainda sem julgamento de mérito é um exemplo do acima exposto. Nada investiu
com recursos próprios e arrecada a água distribuída pelas tubulações instaladas
pela CEDAE!
2) Apesar de seu sucateamento permanece viável e
mantém inclusive a sua vocação inigualável para a distribuição de água e para
os reparos emergenciais da rede e das adutoras. Isso com certeza, seria
descartado com a cisão.
3) A CEDAE não anda com suas próprias pernas. O
que acontece na CEDAE em mandos ou desmandos é de responsabilidade do Estado de
onde emanam. Ele é o dono. Ele é o acionista majoritário. Culpar os técnicos e
o quadro de pessoal em geral hoje bem reduzido em mais ou menos 50%, comparado
com o quadro na fusão, é insustentável, é mascarar a incompetência
governamental de todos os governos que a vem dilapidando.
IMPORTANTE: O presente voto junto com o voto do
acionista majoritário retirou o item 2 da pauta da Assembléia Geral
Extraordinária ocorrida na presente data.
Dario Mondego
Representante dos Acionista Minoritários da CEDAE